Setembro amarelo: Hoje eu chorei. Chorei como não chorava há alguns meses
Hoje eu chorei. Chorei como não chorava há alguns meses. Achei que estava aguentando bem, mas não. Só estava sendo mais uma dentre tantas mulheres que precisam sobreviver e carregar, sozinha, o peso social de sua existência, como mulher e como mãe. A verdade é que 2024 tem sido um ano muito difícil para mim. Desde o começo, tudo começou mal. Na verdade, antes, na virada do ano, com uma crise de meltdown por conta de muito barulho e ansiedade.
Depois, sem mais nem menos, fui mandada embora do trabalho, justamente pouco tempo após ter apresentado meu laudo. Como sou PJ, saí com uma mão na frente e outra atrás.
Fiquei sem UM TOSTÃO no bolso e com um filho para criar. Minhas economias duraram uns dois meses, depois disso, a pindaíba chegou, e com ela, uma maré intensa de azar. As coisas começaram a ficar péssimas. Tive de fazer rifa para COMER, veja bem. Nenhum emprego até então, várias entrevistas e nada.
Cinco meses se passaram e, quando achei que não poderia piorar, piorou: TROPECEI E QUEBREI O BRAÇO. Mas não foi algo simples, como usar gesso e pronto. Precisei fazer cirurgia. Meu osso quebrou de um jeito complicado. E, antes da cirurgia, passei dez dias só com uma tala, o braço quebrado, esperando a operação. Eu respirava e tudo doía. Não conseguia comer sozinha, tomar banho sozinha, usar o banheiro sozinha. Após dez dias de tortura e dores tão intensas que cheguei a querer me machucar para parar a dor, fiz a cirurgia. Uma placa e treze parafusos passaram a fazer parte da minha vida desde então, junto com as dores pós-operatórias. O médico me deu no mínimo seis meses para voltar ao normal.
Ainda estou no quarto mês e, nesse tempo, continuo sem emprego, sem trabalho, tendo que pedir ajuda e empréstimos. Meu nome? Nem limpo está mais. Estou devendo uma quantia que muita gente ganha por mês. Recebi ajuda, sim, de pessoas, mas uma hora enche o saco, né? Eu sei. Caridade tem validade. E não culpo ninguém por isso.
Consegui acesso ao INSS, mas quem vive com R$ 1.400? Tenho água, luz, gás, apartamento, internet, condomínio, compras do mês… E ainda falta. Preciso pular uma conta para pagar outra. Tanto que cortaram minha luz esses dias. Agradeço a quem me ajudou. Mas de que adianta toda minha competência se eu não sou branca e privilegiada? Queria eu ter nascido com lábia e menos melanina, e com a cabeça “normal”. É a verdade.
Fora isso, tem a maternidade solo, o filho e a escola, que estão péssimos. Estou tendo que lidar com a adolescência, minha casa (afinal, preciso limpar a casa, fazer comida, lavar roupa, etc., porque não tenho dinheiro para pagar alguém para fazer por mim). Não tenho papai e mamãe para lavar minhas calcinhas, mas invejo quem tem.
Diante de tantas coisas, para ajudar, minha geladeira pifou. Eu chorei. Antes, durante a terapia, e depois também. Estou um caco. Cansada, desgostosa e triste. Tenho pessoas que me apoiam, mas, nas 20 horas ou mais do meu dia, sou eu por mim mesma. E é cansativo demais.
A única coisa que consegui foi descarregar esse peso em forma de palavras e lágrimas: salgadas e tristes, cansadas e com o desejo de ser carregada e cuidada. Ter o cuidado que nunca tive na vida. Desde que nasci. É pedir muito conseguir viver bem?
Na rede social é tudo lindo e chega uma hora que a máscara cai de tanto que o rosto ta inchado de chorar. Pedir ajuda é como mendigar o mínimo e ser ignorada. A vida segue.